Atuação na cadeia completa de medicamentos e ações para
ampliar a produção fazem receita crescer 25% em 2020
Por Roseli Loturco, Valor
Crescer e se destacar em anos complexos como 2020 e 2021,
abrindo novas unidades fabris e expandindo a produção, têm sido os desafios
enfrentados pelo mundo empresarial. E poucos têm obtido êxito. Mas, às vésperas
de seu aniversário de 50 anos, o Laboratório Cristália já colhe os resultados
dos seus investimentos constantes feitos nessa direção. O laboratório, que fornece 24 dos 30 produtos
usados para tratamento da covid-19 em âmbito hospitalar, quadruplicou sua produção
para atender os mais de quatro mil hospitais públicos e privados do Brasil.
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Para dar suporte ao aumento sem precedentes da demanda por
produtos ligados ao uso de respirador nas Unidades de Terapia Intensiva (UTIs),
o Cristália investiu no ano passado R$ 40 milhões na expansão da unidade de
produção de Pouso Alegre (MG), que, além de soluções parenterais de grande
volume, passou a produzir também medicamentos injetáveis, especialmente os
utilizados no tratamento da covid-19 durante a intubação. A iniciativa
possibilitou a produção de 25 milhões de unidades de anestésicos por ano na
unidade mineira. “Somos fabricantes de insumos para a cadeia de saúde,
entendemos a nossa responsabilidade e agimos rapidamente”, afirma Ricardo
Santos Pacheco, presidente do Laboratório Cristália, um complexo industrial
farmacêutico, farmoquímico, biotecnológico, de pesquisa, desenvolvimento e
inovação 100% brasileiro que, pela quarta vez, está no topo do ranking Valor
1000, no setor Farmacêutico e Cosméticos.
Ricardo Santos Pacheco, presidente da Cristalia — Foto:
Divulgação
O resultado do aumento de demanda e de produção conferiu à
empresa um faturamento de R$ 3 bilhões em 2020, alta de 25% ante o ano
anterior, percentual superior ao do setor no período (11,5%). Neste ano, em que
projeta uma receita de R$ 4 bilhões, a empresa continua investindo para atender
à demanda crescente. Adquiriu uma planta na cidade mineira de Montes Claros,
para ampliar a produção de todas as suas linhas farmacêuticas, investimento que
deve chegar a R$ 500 milhões nos próximos três anos. “Estamos também planejando
a expansão da capacidade de produção de insumos biotecnológicos na fábrica de
Itapira (SP), que deve exigir algo em torno de R$ 200 milhões”, conta Pacheco.
Principal unidade de injetáveis do Cristália, a planta de Itapira é considerada
uma das mais modernas do mundo.
Segundo o executivo, um dos principais fatores que explicam
a rapidez nas decisões e realizações de investimentos do Cristália é a
capitalização da empresa. “Não temos necessidade de financiamentos privados,
nem de ajuda do BNDES”, afirma Pacheco. Outro ponto que ele acredita ser
diferencial é a prática de gestão diferente da observada do mercado. “Nós temos
capacidade de produção flexível. Conseguimos produzir tipos diferenciados de
medicamentos e atender à demanda quando ela se apresenta. Não dependemos de poucos
medicamentos”, diz.
A companhia também se diferencia por não ser dependente da importação de
insumos para a fabricação de medicamentos. Desde os anos 1980, o Cristalia
investe na produção de insumos farmacêuticos ativos (IFAs) e hoje fabrica mais
de 50% do que necessita para a produção de seus medicamentos. No caso dos
produtos destinados ao tratamento da covid-19, a empresa importa apenas 15% da
matéria-prima necessária, de países como Índia e China. “Temos produção
verticalizada e isso certamente fez muita diferença neste momento de crise”,
diz Pacheco.
De forma geral, o setor farmacêutico, que importa 95% da
matéria-prima utilizada para a fabricação de remédios, foi bastante impactado
pela variação cambial, que provocou aumento nos custos. “O setor registrou
crescimento e faturou mais, mas com custos bem maiores. Além da variação
cambial, pesou o aumento do frete, que passou de US$ 1 para US$ 15 o quilo
transportado. Houve também escassez de matéria-prima”, observa Nelson
Mussolini, presidente-executivo do Sindusfarma. O setor projeta alcançar R$
84,15 bilhões em receita neste ano ante os US$ 77 bilhões registrados no ano
passado.
Na área de gestão de pessoas, um dos desafios de 2020 foi a
movimentação desencadeada pela covid-19. Desde o início da pandemia até hoje,
cerca de 900 dos 5.600 colaboradores do Cristália foram contaminados pelo
coronavírus e tiveram de ser tratados em casa, além de serem submetidos a
testagens antes de voltarem ao trabalho. Para não comprometer a produção, foram
contratados profissionais temporários que substituíram todo evento de suspeita
de contaminação pela covid-19. “Tivemos que nos readaptar e a maior dificuldade
é manter a empresa operando em contexto adverso. Os funcionários do escritório
e da área comercial estão trabalhando on-line e os demais, seguindo protocolos
de saúde”, explica Pacheco. O planejamento deste ano, segundo ele, prevê a
contratação de mais cem profissionais.
Colaboradores da Cristália trabalham na máquina encartuchadeira
que faz parte do kit entubação — Foto: Julio Bittencourt/Valor
Os principais clientes do Cristália são os hospitais e o
governo, pois a empresa é fornecedora do Sistema Único de Saúde (SUS). Para
eles são destinados 80% de sua produção. Apenas 10% vão para as farmácias e o
restante, para exportação. Maior detentor de patentes do país na área de
medicamentos (tem um total de 117) e líder de mercado em anestésicos na América
Latina, o Laboratório Cristália gosta de destacar seu pioneirismo de atuação na
cadeia completa de um medicamento, desde a concepção da molécula até o produto
final.
Entre as novidades está a parceria que a empresa acaba de
fechar com o Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos da Fundação Oswaldo
Cruz (Bio-Manguinhos/Fiocruz), para fornecimento do biofármaco somatropina para
o SUS. O medicamento é usado no tratamento de pacientes com hipopituitarismo
(deficiência do hormônio do crescimento humano) e no tratamento da síndrome de
Turner (doença genética que causa baixa estatura em mulheres).
A somatropina é resultado de um desenvolvimento 100%
nacional. Além de suprimir a necessidade de importação do IFA, o medicamento é
o primeiro desta categoria aprovado pela Agência Nacional de Vigilância
Sanitária (Anvisa). Em seu parecer, a Anvisa menciona que o exercício da
comparabilidade entre o biossimilar e o medicamento de referência utilizou
métodos robustos para caracterização das propriedades estruturais,
físico-químicas e de atividade biológicas, demonstrando a alta semelhança entre
os dois. “Este produto foi o lançamento mais importante que fizemos no mercado.
E é modelo de transferência de tecnologia para o laboratório oficial do
governo. Somos responsáveis pelo atendimento de 70% da demanda pública do SUS.
Mais uma grande conquista do Cristália”, observa Pacheco.
Link da matéria: https://valor.globo.com/empresas/noticia/2021/09/29/valor-1000-cristalia-quadruplica-producao-para-atender-hospitais.ghtml