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Sou médico e fui para Itapira a convite de um colega para clinicar. Depois formou-se um grupo que montou um hospital para o qual me convidaram. Passado algum tempo, surgiu a ideia de que, para baixar o custo operacional do hospital, passássemos a produzir alguns medicamentos. Foi aí que surgiu um pequeno laboratório cuja finalidade era abastecer o hospital e que, ao final, produzia muito mais do que se precisava.

Não tendo saída, tivemos que começar a vender o excedente, e deu certo. Participamos da produção de praticamente todo o coquetel anti-AIDS, que não está sujeito a patente. Tudo que não está patenteado nós fabricamos, na realidade por meio de um consórcio no qual a Cristalia é a empresa líder. Por outro lado, lideramos o segmento de anestésicos, somos líderes em anestesia na América Latina.

Para isso, houve necessidade de muito trabalho, de muita criatividade. Se nós seguíssemos um padrão de copiar e apenas copiar, provavelmente hoje nós estaríamos fabricando genéricos, sendo mais um no universo de fabricantes de genéricos. Não tenho nada contra genéricos, acho que são bons produtos, com recursos terapêuticos e farmacêuticos bastante interessantes, porém era visível e imaginável que dentro de algum tempo todos os fabricantes de genéricos iriam desembocar em uma luta canibalesca pelo mercado, que é o que está acontecendo hoje. Como sair disso?

No nosso modo ver, a saída era nos voltarmos para nichos, situações em que tivéssemos uma produção mais defensável, não tão facilmente "canibalizável". Só tinha um jeito, tínhamos que desenvolver a síntese de princípios ativos, algo que o Brasil nunca fez, o Brasil importa hoje mais de 90% do que necessita para produzir seus medicamentos.

Nós, em contrapartida, produzimos cerca de 50% de nossas necessidades. Foi aí que tudo começou, primeiro copiando a síntese dos princípios ativos, para aprender. Porque primeiro você aprende a cozinhar, depois você inventa pratos. Depois de um certo tempo, quando nos sentimos mais à vontade na cozinha, passamos a criar pratos, que vieram a nos render 71 patentes.

Quando eu digo isso pode não parecer muito em comparação com outros produtos nacionais, entretanto, é o maior número do Brasil. E se nem toda a inovação é patenteável, ­toda patente contém uma inovação. Por aí vemos que na busca de diversificação, acabamos criando um nicho para desenvolver princípios ativos menos facilmente "canibalizáveis".

Em determinado momento houve uma certa indecisão sobre qual era o melhor caminho. Indecisão essa provocada pela insegurança do desconhecimento, pois conhecíamos muito pouco da área. Hoje se eu pudesse voltar atrás, teria começado antes.

Na minha opinião, nada resiste ao trabalho. Se você tiver perseverança e uma ideia na cabeça, acredite nela. Trabalhando, com certeza, você chegará a um lugar de destaque. Um conselho que eu posso dar é, pense em nichos, pois é onde não há o menor ataque da concorrência, é onde há sua menor concentração.

O homem inova desde que existe sobre a face da Terra. Então o que é inovação nos termos atuais e o que se pretende dizer com ela? É a melhoria de produtos e processos, pois ninguém inova por inovar, inova para melhorar algo que já existe. Digo isso porque as pessoas muitas vezes ficam inibidas, achando que têm que criar algo completamente novo. Mas coisas absolutamente novas e inéditas são raríssimas, o que há na realidade é a melhoria de coisas já existentes.

Falando do nosso negócio, o que se deve buscar é melhorar o que existe dando ganho efetivo terapêutico. Não é só mudar a cor da cápsula ou melhorar o sabor do xarope, temos que dar ao paciente um ganho real em seu tratamento.

Penso que as pessoas devem acreditar em suas possibilidades, na centelha interna que existe em cada um para, em trabalhando, traduzir isso em produtos mais efetivos.

 

Autor: Ogari Pacheco, presidente da Cristalia. 

15/03/2014

 

 

 

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Pesquisa & Inovação Sustentablidade Negócios

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